novembro 10, 2013

Sobre diários e fotografias

Escrever e fotografar são modos de guardar para sempre algo perecível, como se tivéssemos o poder de congelar um segundo no tempo, eternizar um pensamento ou um pôr de sol.
 Eu sempre gostei muito de escrever e fotografar. Talvez não por acaso, eu experimentei o sentimento de perda muito intensamente e por muitas vezes na minha vida. Talvez seja esse desejo de materializar o impalpável e impedi-lo de se desvanecer o que move a minha paixão pelo registro de momentos importantes.
Mas hoje estou questionando as consequências dessa materialização do intocável. O registro de um sentimento encerra em sua tinta e cores o mesmo saber que eu experimentei ao tocá-lo?
A réplica, embora não adicione a si valor por ser réplica, subtrai importância de seu original. É um substituto que, ainda que tosco, substitui. A beleza, uma vez registrada e devidamente documentada, recebe licença para morrer, sem honras ou cerimônias.
Absorto na tarefa de materializar e eternizar o momento, o artista perde a oportunidade de aproveitá-lo plenamente e, portanto, absolutamente.
A raridade e exclusividade contida naquilo que permanece livre, imaterial, não-documentado, cobrem o momento com um verniz de surreal, transformando-o com o passar do tempo em uma lembrança difusa, perdida na linha que separa realidade e sonho.