novembro 26, 2014

Saudade

Ela veio muito devagar, quase nem percebi quando chegou. Eu tentei dizer a mim mesma que estava tudo bem e que era algo passageiro. Mas agora, até mesmo a menção dessa palavra que me lembra tanto a minha casa me inunda de saudade. E eu não sinto só falta daquilo que estava tão próximo de mim há pouco tempo. Sinto saudade de acordar em lençóis de margaridas multicoloridas e esfregar os pés recém-tirados de dentro das meias, podendo respirar finalmente depois de um dia inteiro na escola. Sinto falta de ir no quintal de casa e tirar a areia do parquinho dos pés. Sinto falta de comer arroz doce enquanto jogava Super Mario World. Sinto falta de chamar minhas amigas pra ir pedir prenda pra festa junina da escola. Sinto saudade da minha gata e seus enormes olhos azuis. Sinto falta da brisa refrescante em um dia quente de primavera, a minha estação favorita. Sinto falta de como a primavera é em casa. Eu ainda não sei como é aqui, mas sei que vai ser muito diferente. Na minha nova casa eu vejo tantas coisas bonitas... casinhas iguais às que eu desenhava no pré, jardins lindos e janelas decoradas com flores e abajures. As ruas são perfeitas, vazias, cheias de árvores. As pessoas são educadas e respeitam o meu espaço. Tudo o que eu não gostava por eu encontro aqui. Mas não parece lar.
É verdade que eu não sinto que lugar algum é meu lar há muitos anos. Mas nada me parece familiar aqui. Tudo parece melhor, mas melhor não é familiar. E talvez nem seja bom. É um pouco confuso, contraditório. Mas os meus sentimentos nunca fizeram sentido (acho que não é pra isso que sentimentos servem). O que eu sei é que esse lugar estranho, diferente, lindo, não se parece com a minha casa. Não vejo gatinhos pelas ruas, não tomo banho gelado, não tomo caldo de cana num dia de sol quente. É, saudade é uma palavra que só existe em português.